O espelho mágico da rainha má de Cinderela é a primeira versão do Facebook: retrata a necessidade de sermos admirados e reconhecido pelos outros, assim como de bisbilhotar a vida alheia. Também na rede social, a felicidade passa a ser uma questão de estar melhor do que os outros ou ser aceito por eles. A quantidade de “curtis” recebidos passa a ser o novo indicador de felicidade.
Enquanto Narciso olha o espelho para confirmar e admirar a sua beleza, o sábio olha para si mesmo no sentido de entender quem é, o que sente, como é afetado pelo ambiente e como reage aos seus estímulos. Um procura por validação, o outro por consciência.
No meu trabalho como consultor é muito comum encontrar pessoas que consomem uma energia incrível para tentar ser quem elas não são. Certa vez, uma jovem muito competente, tranquila e serena comentou que precisava mudar seu comportamento para ter sucesso na carreira, que deveria ser mais competitiva e agressiva. Acredito que ela estava certa quanto à leitura que fez da empresa e de suas possibilidades de carreira. A questão, no entanto, é se ela seria feliz com esta nova versão do seu ser. Este dilema não é privilégio do ambiente corporativo, nos defrontamos com ele para tentar ser o filho querido ou o amigo admirado.
Não vejo problema em adaptar-se e desenvolver as competências necessárias para expressar e defender as suas ideias e conquistar o seu espaço na sociedade. Isto é uma virtude. Mas abrir mão dos seus valores e jeito de ser pode significar a perda da sua identidade. Você olha no espelho e não se reconhece mais.
Em boa parte do nosso tempo, procuramos ser o que pensamos que os outros gostariam que fôssemos. Mesmo sem ter certeza de que sabemos o que eles querem ou, até mesmo, esquecendo do que queremos. A necessidade de ser aceito supera a vocação de ser feliz.
Colocar máscaras e armaduras para ser apreciado ou sentir-se seguro demanda muito esforço e nos afasta de nossa essência. Isto gera estresse e insatisfação. A felicidade é consequência da expressão fiel e pura da sua essência, um alinhamento entre o ser e o fazer. Ou seja, atuar em sintonia com a sua forma de ser, sentir e pensar.
Tenha mais interesse em si mesmo, dedique tempo para conhecer a sua essência. Quantas vezes você dedicou um tempo para refletir sobre os aprendizados do dia ou de como se deixou ser afetado pelos acontecimentos?
Procure ser um observador de si mesmo. Saia do palco e vá para a plateia. Simplesmente observe seus sentimentos e pensamentos: como é afetado pelas situações e como reage a elas, se seus comportamentos lhe são favoráveis ou prejudiciais. Suspenda o julgamento, geralmente baseado na opinião dos outros, e simplesmente sinta o que lhe faz bem ou mal. Atue de forma consciente e em harmonia com os seus valores e forma de ser.
Você agrega muito mais valor ao mundo sendo quem você é e não tentando ser aquilo que os outros esperam.
2 Comments
Mestre do meio do caminho ,
Mais uma vez , você me ajudou a retornar ao meu caminho.
Perfeita metáfora do espelho do conto da Cinderela.
Me pemieta agregar mais motivos para usar o facebook como ferramenta de felicidade : a carência de afeto e solidão me fazem buscar no Facebook , o que deveria buscar de outra forma: de dentro para fora.
Bj
Boa reflexão, Laura!