O comediante americano Jerry Seinfeld, na abertura de um dos episódios de seu programa de TV, comenta uma pesquisa sobre os maiores medos das pessoas. Em primeiro lugar está falar em público, seguido por viajar de avião e, somente em terceiro lugar, aparece o medo de morrer. A conclusão de Seinfield, diante da pesquisa, é que, em um funeral, a maioria das pessoas preferiria estar no lugar do morto do que na pele de quem faz o discurso.
Pode ser exagerado, mas nos treinamentos “Vendendo Ideias”, sobre técnicas de apresentação, notamos o grau de ansiedade e sofrimento das pessoas ao saberem que deverão se expor diante do público. Interessante observar que, longe do palco, a maioria se comporta de forma descontraída e com boa capacidade de comunicação.
Por que estar no palco é tão desafiador para a maioria das pessoas? Por que falar em público é tão estressante? Por que as pessoas sofrem mais antes da apresentação do que durante a mesma? Por que tememos tanto o público que nos espera?
No teatro do medo, o público tem papel coadjuvante. Numa apresentação, o mais cruel inimigo não é a plateia, mas a mente que cria expectativas exageradas e obstáculos insuperáveis. O diálogo interno sequestra a razão e cria os fantasmas que atormentam, preocupam e geram o mal estar.
Antes da apresentação, é natural preparar-se para o público e elaborar estratégias que sejam mais eficazes em função dos seus objetivos, da característica do público e do próprio apresentador. Este é um trabalho racional e produtivo. O problema é quando exageramos e deixamos a mente fixar nos pensamentos recorrentes que afetam nosso comportamento de forma negativa. Como será o público? Como serei recebido? E se eles forem desinteressados e não prestarem atenção? Ou muito ativos e dispersos? Será que terei respostas para todas as perguntas? E se der branco?
A cada resposta criamos nossas profecias catastróficas. Faltará tempo e não conseguirei falar tudo que preciso, as pessoas ficarão cansadas e desatentas, fulano fará perguntas para me desestabilizar, os participantes sairão da sala ou atenderão o celular enquanto eu falo, tem gente que sabe mais do que eu e pode me questionar, todos pensarão que sou incompetente – entre outros pesadelos.
Além de minar a autoconfiança e gerar um nível de estresse desnecessário, este diálogo interno cria um ciclo de profecias autoconcretizadas. Se inicio uma apresentação temendo um cenário negativo, toda minha atenção estará focada em identificar os sinais de ameaça. Uma vez identificados, eles reforçam a minha tese e influenciam o meu comportamento, que poderá estimular o público a atuar exatamente da forma que eu mais temia.
Como minimizar os efeitos desta tensão pré-apresentação? Uma boa tática vem do mundo mágico de Harry Potter. Num dos filmes, um professor leva seus alunos para aprender a lidar com o Bicho Papão que fica escondido em uma arca. Assim que a arca é aberta, uma fumaça se espalha pela sala e se transforma no maior medo da criança. Aquele que teme o palhaço, vê a fumaça se transformar num palhaço gigante. O truque ensinado pelo mestre é simples: basta direcionar a varinha mágica para o medo e dizer “ridiculus”. Quanto maior a confiança e determinação do pequeno bruxo, mais rápido a fumaça se desfaz e volta para o seu lugar.
A grande descoberta de Harry Potter está em trabalhar os medos exagerados de forma exagerada. Se a mente está brincando comigo, por que não brincar com ela?
Procure identificar os pensamentos recorrentes antes de uma apresentação. Observe o que há de verdade nestes pensamentos e o que é apenas uma visão distorcida, um bicho papão. Para o que é real, defina um estratégia de apresentação. Para o exagero, ridículus!
Visualize a apresentação e a plateia de forma positiva. Ao invés do inimigo a ser batido ou evitado, melhor encarar o público como realmente ele é: pessoas que têm seus sonhos, necessidades e medos.
Avalie se a sua necessidade de ser aceito está impondo exigências irreais quanto ao seu desempenho na apresentação. Estruture a sua apresentação com base nos seus pontos fortes ao invés de tentar esconder os pontos frágeis. Aja de forma natural. Seja você mesmo, preserve a sua essência. Não se obrigue a criar um personagem que agrade a todos. Seja mais gentil consigo mesmo.
Divirta-se!